A reconversão de carreiras parece estar na moda, principalmente na área das tecnologias. A formação base tem deixado de ser o único elemento a ser considerado na luta por uma vaga de emprego e a paixão, o propósito, a curiosidade e a entrega têm passado a ser fatores preponderantes no processo de avaliação de candidatos. Esta perspetiva, este novo paradigma, fica patente com a frase de Simon Sinek, autor e palestrante inspirador da atualidade: “You don’t hire for skills, you hire for attitude. You can always teach skills“, ou seja, ele defende que o driver de uma contratação tenha em bastante consideração a atitude do candidato, os seus valores, e não exclusivamente as competências técnicas, porque estas se podem moldar, ensinar e ser adquiridas mais rapidamente do que as atitudes e os valores.
Esta tendência de olharmos para as nossas capacidades e paixões, em vez de somente para a Licenciatura frequentada, é uma tendência que se faz sentir há uns anos devido à volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade que este mundo globalizado tem introduzido e que tem sido acelerado pela pandemia da COVID-19. Se há uns anos atrás o mercado se mostrava mais reticente a esta prática, neste momento a mesma é cada vez mais aceite e até potenciada pelo próprio tecido empresarial, em especial na área das TI.
A maior abertura do mercado nacional para a reconversão e para a captação de talentos de áreas transversais é visível em iniciativas como a UPskill e IEE TechSkills, onde a Sage participa ativamente. Este tipo de iniciativas e a participação das empresas envolvidas têm como objetivo potenciar o desenvolvimento do país, em alinhamento com o Plano de Ação para a Transição Digital do Plano de Recuperação e Resiliência, com especial enfoque para a Transformação digital do tecido empresarial e a Digitalização do Estado. Trata-se, como vem referido na Resolução do Conselho de Ministros n.º 30/2020, de uma clara aposta, por parte de todos os envolvidos, “numa economia e numa sociedade baseadas no conhecimento, em que o crescimento da produtividade assenta na inovação e na qualificação das pessoas; numa sociedade inclusiva, que a todos oferece as competências para participar nas oportunidades que são criadas pelas novas tecnologias digitais.”, vetores considerados essenciais ao desenvolvimento económico de um país. De um modo mais global, é notório um claro alinhamento aos Sustainable Development Goals das Nações Unidas, na medida em que a iniciativa visa claramente “assegurar uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” – objetivo 4 –, “promover o crescimento económico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho digno para todos” – objetivo 8 – e “reforçar os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável” – objetivo 17. e o CCISP e abraçada por várias empresas de renome internacional, onde se inclui a Sage.
Num estudo conduzido antes da pandemia pela Microsoft em conjunto com o LinkedIn, é visível que Portugal contava gerar até 2025, um grande volume de empregos relacionados com as competências digitais – quase meio milhão de empregos –, destacando-se áreas como o desenvolvimento de software, inteligência artificial, machine learning e analítica, cloud e dados, cibersegurança e privacidade. Neste momento, dois anos após o início da pandemia, parece evidente que o número de ofertas nestas áreas será francamente maior e que a meta de meio milhão de novos empregos será atingida antes de 2025.
A mudança para uma carreira na área das TI parece ser assim, uma aposta acertada e tentadora para assegurar uma carreira com futuro em Portugal e, mesmo que esta mudança possa parecer assustadora, está cada vez mais ao alcance de qualquer um. Para algumas carreiras poderá ser necessário considerar fazer um novo curso ou uma formação profissional, e em outros casos, poderá ser necessário realizar um curso de reconversão mais especializado e direcionado às qualificações setoriais específicas e às necessidades das empresas. Neste sentido, é essencial identificar a área mais adequada e fazer um plano para adquirir a experiência e/ ou formação necessárias para poder entrar no mercado e ir-se especializando cada vez mais.
Para a Harvard Business Review, este período que vivemos, recheado de eventos inesperados, tem-nos tirado das nossas zonas de conforto, levando-nos a refletir o que é verdadeiramente importante para nós e para as nossas vidas. Admitem, por isso mesmo, que é perfeitamente natural que estudantes universitários, desempregados e empregados de longa duração, estejam a repensar as suas vidas no geral e as suas carreiras em particular. Por exemplo, as oportunidades de formação e desenvolvimento, a progressão na carreira e o equilíbrio trabalho/ vida pessoal foram os três fatores mais relevantes citados por estudantes e licenciados ao considerarem as suas opções de carreira, num estudo dirigido pela Prospect Luminate, publicado em junho de 2021.
Sobre esta temática, Herminia Ibarra, publicou um artigo em abril de 2020 na Harvard Business Review, onde identificou 5 princípios básicos, que podem ajudar todos os que pretendem concentrar-se na reinvenção das suas carreiras e que partilhamos neste artigo:
Quem experienciou uma reconversão de carreira, sabe que este não é um processo linear. É uma viagem confusa de exploração e experimentação, de teste e de aprendizagem constante sobre uma série de possíveis caminhos pessoais, de construção de uma série de possíveis “eus”.
Para abarcar todas as opções plausíveis, é vital permitirmo-nos imaginar um conjunto divergente de possíveis “eus” e de futuros.
Este processo de mudança está carregado da sensação de um passado que claramente desapareceu e de um futuro que ainda é incerto, sendo por isso uma experiência muito emocional. As pessoas que passam por estes processos têm momentos em que se sentem desmotivadas, em que sentem que perdem o chão e oscilam entre o “agarrar-se a” e o “deixar-se levar”.
Embora doloroso, este é um estado necessário para processar desejos conflituosos e ajudar a ter mais claras as opções de futuro.
Cultivar novos conhecimentos e aptidões, adquirir novos recursos e cultivar novas relações ou retomar relações do passado, são algumas das estratégias mais comuns para este processo de reconversão de carreira.
Este momento representa uma oportunidade de aprender sobre nós próprios, as nossas preferências e aversões, e os tipos de contextos e pessoas que fazem sobressair o melhor de nós.
Nestes períodos de transição é bastante importante estabelecer novas relações e mobilizar as relações com pessoas com as quais não há muita confiança, ou com as quais não interagimos há algum tempo. Esta abordagem permite aumentar as possibilidades de obter ideias/ dicas inovadoras uma vez que a interação ocorre com pessoas fora do nosso círculo mais próximo, que embora tenham muita vontade de ajudar, têm, por norma, gostos, experiências e conhecimentos muito mais próximos dos nossos.
A autorreflexão é uma prática da qual podemos extrair melhores resultados ao falar em voz alta com pessoas que se encontram nas mesmas circunstâncias, ou que já passaram por elas; que respondem às nossas inquietudes, simpatizam e se compadecem, que questionam e partilham as suas próprias experiências.
Uma das razões pelas quais os potenciais candidatos à mudança de carreira beneficiam tanto da frequência em cursos e formações profissionais, é que os seus colegas representam uma comunidade disponível com a qual podem falar sobre este tema.
Em qualquer processo de mudança de carreira é essencial abraçarmos novos projetos e relacionarmo-nos com as pessoas certas, que tenham conhecimentos técnicos que nos possam transmitir, que estejam a passar pelo mesmo e com as quais possamos dialogar sobre inquietudes e ideias de evolução e de mudança.
No final, quando se trata de reinventar a nossa carreira, devemos lembrar-nos deste ponto importante: o tempo de começar é agora, mas não o devemos fazer sozinhos!
2022-03-28