A importância de um bom diagnóstico financeiro poderá comparar-se ao diagnóstico precoce de uma doença, a qual, quando detetada a tempo, será mais fácil de curar.
Um bom diagnóstico financeiro é fundamental, tanto para o crescimento da empresa como para a sobrevivência de qualquer negócio.
No entanto, não deve ser deixado nas mãos de qualquer pessoa. Do mesmo modo que, voltando à comparação com o diagnóstico médico, não deixamos a nossa saúde nas mãos de qualquer pessoa.
O diagnóstico financeiro tem de ser fiável. E, se possível, deve ser automatizado através da utilização de um software de contabilidade, para facilitar a determinação dos principais rácios que se costumam utilizar na sua elaboração.
Poderemos definir o diagnóstico financeiro de uma empresa como a análise da informação fornecida pela contabilidade, para determinar a situação económica da empresa.
O objetivo de qualquer diagnóstico financeiro é determinar a situação financeira da empresa através da medição de valores como:
A medição destes valores é efetuada com o objetivo de obter informações relevantes que facilitem a tomada de decisões.
Para a elaboração de um diagnóstico financeiro completo, podem ser dados os seguintes passos:
Antes de elaborar o diagnóstico financeiro, deve determinar-se:
Para elaborar o diagnóstico financeiro da organização, o mais importante é dispor de informações financeiras atualizadas e normalizadas. Principalmente das demonstrações financeiras comparativas de dois períodos consecutivos.
Assim sendo, as principais fontes de informação para a elaboração do diagnóstico financeiro são:
Se se souber ler um balanço, pode ver-se se a estrutura financeira da empresa é adequada. Além de se perceber, por exemplo, se os ativos mais líquidos que a empresa tem são suficientes para fazer face aos vencimentos das dívidas de curto prazo.
Os rácios financeiros ou contabilísticos são coeficientes que fornecem unidades financeiras de medida e comparação. Através deles, estabelece-se a relação apresentada pelos dados financeiros e é possível analisar o estado de uma organização com base nos seus níveis ideais..
Os rácios podem dividir-se em económicos e financeiros. Com eles, podem comparar-se os pontos fortes e fracos das empresas. Além de se perceber a sua evolução ao longo do tempo.
Por outro lado, os rácios devem refletir-se num painel de controlo de fácil acessibilidade para facilitar a tomada de decisões.
Ao efetuar uma análise de rácios, devem ser analisados outros fatores. Uma vez que, por si só, o resultado de determinados rácios pode induzir-nos em erro nas nossas análises. É, por isso, fundamental ter em conta o tipo de negócio, a sazonalidade e o setor a que a empresa pertence.
Os rácios contabilísticos fornecem uma avaliação quantitativa. No entanto, é fundamental saber interpretá-los e extrair deles uma análise qualitativa que facilite a tomada de decisões por parte do empresário e/ou dos gestores.
Rácios utilizados no diagnóstico financeiro (e como interpretá-los)
Eis alguns dos principais rácios utilizados para elaborar um diagnóstico financeiro:
FM = Ativo corrente/Passivo corrente
O seu resultado deverá ser superior a um. Dado que há uma parte do ativo corrente (como o stock de segurança ou o saldo mínimo necessário disponível) que, devido à sua importância no processo de produção, deve ser financiada com capital permanente. Em todo o caso, a sua análise por si só pode induzir em erro. Isto porque pode haver empresas solventes com um rácio inferior a um.
Calcula-se através da seguinte operação:
RT = Ativo disponível (tesouraria e investimentos financeiros temporários) + Realizável/Passivo corrente
A sua fórmula é:
RAF = Recursos próprios líquidos/Recursos de terceiros
Mede o número de dias que decorrem, em média, até à cobrança aos clientes. Do ponto de vista do ciclo de exploração, fornecer-nos-á a informação sobre quantos dias decorrem desde que vendemos um produto até se consolidar a cobrança. Também podemos interpretá-lo como o número de dias durante os quais financiamos os nossos clientes. Eis a maneira de calcular este rácio:
Se o setor em que se aplica este rácio for muito sazonal, deverá calcular-se por períodos, a fim de obter a informação mais objetiva possível. Quanto mais elevado for o valor deste rácio, tanto maior será o volume de recursos indisponíveis da empresa.
Calcula-se através da seguinte fórmula:
Período médio de pagamento = (Saldo médio de fornecedores/Compras) x 365 dias
Quanto mais elevado for o valor deste rácio, mais demora o pagamento aos fornecedores. O que revela que a empresa está a financiar-se com esses fundos.
Obtém-se com a seguinte fórmula:
RAJ = Resultados antes de juros e impostos/Ativo total
O rácio para o seu cálculo é:
ROE = Resultado líquido após impostos/Fundos próprios
Por outro lado, é muito importante que, ao elaborar o diagnóstico financeiro de uma empresa, nos baseemos em elementos como o relatório de atividades, o relatório de auditoria e o relatório de gestão.
O EBITDA é um dos indicadores mais utilizados para medir o resultado da empresa. Este acrónimo provém do inglês earnings before interest, taxes, depreciation and amortization. Ou seja, “lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações”.
O EBITDA mede a capacidade de uma empresa para gerar lucros, considerando unicamente a sua atividade produtiva.
O fundo de maneio ou fundo de rotação é uma medida da liquidez da empresa que indica a capacidade de manobra que uma empresa possui para poder fazer face aos seus pagamentos a curto prazo. E, simultaneamente, poder efetuar investimentos ou aquisições próprias de qualquer atividade comercial. A fórmula utilizada para o seu cálculo é a seguinte:
FUNDO DE MANEIO = ATIVO CORRENTE – PASSIVO CORRENTE
O ativo corrente é composto pelas existências, tesouraria, direitos de cobrança a curto prazo e, em geral, quaisquer ativos líquidos. Ao passo que o passivo corrente reúne as obrigações de pagamento a curto prazo. Ou seja, as que são exigíveis num prazo inferior a um ano.
O resultado da fórmula tem de ser positivo. Dado que uma parte do ativo corrente, como o stock de segurança ou o saldo mínimo necessário disponível, devido à sua importância no processo de produção, deve ser financiada com capital permanente.
Se o fundo de maneio for negativo, uma parte do ativo não corrente será financiada a partir do passivo corrente. Tal procedimento aumenta a probabilidade de entrar em falência, uma vez que a empresa não consegue fazer face às suas dívidas a curto prazo com os seus ativos mais líquidos (ativo corrente). Ainda que dependendo do setor e do tamanho, há empresas que podem sobreviver com fundos de maneio negativos, pelo que é necessário saber interpretar corretamente este dado.
O cash flow é o indicador de análise financeira que nos permite avaliar a capacidade de uma empresa para gerar liquidez e, portanto, cumprir os seus pagamentos. Para isso, não basta conhecer o lucro da empresa. Dado que o lucro contabilístico deduziu em si mesmo o montante das provisões e amortizações que, embora pressuponham um aumento da despesa contabilística, não significam uma saída de dinheiro real da empresa.
Em termos gerais, o cash flow é calculado pelo resultado da seguinte fórmula:
CASH FLOW = LUCRO + AMORTIZAÇÕES + PROVISÕES
Por último, o diagnóstico financeiro deve contar com uma fase de análise em que se estudem as informações obtidas, a fim de tomar as decisões adequadas para resolver problemas, procurar financiamento, alternativas de investimento, etc.
Como se pode constatar, o diagnóstico financeiro de uma empresa é muito completo e complexo, pelo que não se pode perdê-lo de vista para estar atento à atual situação financeira da empresa, detetar e resolver atempadamente eventuais problemas e tomar as melhores decisões que garantam a viabilidade da empresa.
2022-10-19